As denúncias contra o conglomerado Sigdo Koppers, dono da Enaex Brasil

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área destruída por explosão na empresa Enaex Brasil, em Quatro Barras

Área destruída pela explosão da Enaex Brasil, em Quatro Barras. Foto: Bombeiros/PR

Uma explosão na fábrica de explosivos Enaex Brasil (antiga Britanite) na manhã do dia 12/08 resultou em 9 trabalhadores falecidos e 7 feridos. O estrondo pôde ser ouvido por toda a cidade de Quatro Barras - PR,  onde fica a fábrica, e até em cidades vizinhas. A onda de choque da explosão causou danos aos forros e telhados de casas nos arredores, e uma cratera encontra-se atualmente no local onde esses operários e operárias trabalhavam.

A Britanite tem um histórico de acidentes com explosões. Em 2004, dois operários faleceram e um teve suas mãos amputadas, também devido a uma explosão. No ano 2000 também houve um acidente, com 3 vítimas fatais e 4 feridos. [1] 

Em 2015, a Britanite tornou-se Enaex Brasil, uma multinacional pertencente ao conglomerado chileno Sigdo Koppers (SK) que naquele ano adquiriu 100% da fábrica. Além da produção de explosivos, o Sigdo Koppers atua em serviços de mineração, construção, montagem industrial e logística, além de outras áreas englobando os serviços, a indústria e o comércio. 

O SK já foi denunciado múltiplas vezes por trabalhadores e povos indígenas do Chile. Seus crimes englobam assédio moral, demissões arbitrárias, condições subumanas de trabalho, destruição ambiental e envolvimento no deslocamento de dezenas de famílias indígenas mapuche. A seguir, listamos algumas dessas denúncias. 


Em 2014, a tradutora Karina Alarcón denunciou ameaças e humilhações que recebeu da empresa após sua gravidez:

“[…] Trabalho em uma empresa empreiteira chamada Sigdo Koppers e no projeto OLAP na Minera Escondida [a maior mina de cobre do mundo].

Todos os problemas começaram quando avisei da minha gravidez na Sigdo Koppers. Me humilharam e ameaçaram demitir meu esposo se eu não me demitisse, o que fizeram depois de 3 meses. Ao avisar sobre minha gravidez me transferiram para trabalhar na cidade […]

Com mais de 20 dias de antecipação, mandei um recado avisando que acabava meu pós-parto e que devia voltar ao trabalho. Pedi que por favor me mantivessem na cidade, como fizeram durante minha gravidez, para eu poder ficar com minha bebê e seguir amamentando-a, pedido que me negaram […]

Aí começaram as chamadas telefônicas onde me orientavam a voltar à Minera Escondida, ou seja, a mais de 1000 km de distância de minha cidade de residência […]” [2]

5 anos depois, em 2019, uma greve de ferroviários no porto de Ventanas, no Chile, controlado pelo SK, deu-se por demandas de reajuste salarial e abono aos trabalhadores do período noturno. Os grevistas denunciaram a empresa (Ferrocarril del Pacifico) por intransigência total durante a greve, se recusando a qualquer negociação e, mais tarde, contratando trabalhadores terceirizados para retomar as atividades - estratégia que, graças à combatividade dos grevistas, falhou. Além disso, denunciaram o “transporte de cargas que só podem ser transportadas por trens, por meio de caminhões. Acrescentaram que isso representa um alto nível de danos à população e ao meio ambiente, com riscos de tombamento de concentrado devido ao peso inadequado, considerando que uma locomotiva, em termos de carga, equivale a pelo menos sete caminhões.” [3]  

Seguindo no tópico de danos ao meio-ambiente, a Sigdo atuou como consultora da Endesa na construção da represa de Pangue, no rio Bio Bio, terra sagrada aos povos indígenas Mapuche. O projeto Ralco, de construção da segunda represa no mesmo rio, também pela Endesa, foi acusado de corrupção: o ex-presidente do Chile, Eduardo Frei, removeu membros da agência de desenvolvimento indígena do governo por se oporem ao Ralco, e à relocação das famílias indígenas. Diversas outras ações irregulares da Endesa foram encobertas por Frei, em especial aquelas em colaboração com o Sigdo Koppers, por um simples motivo: o ex-presidente foi um dos principais acionistas do SK ao longo de décadas. [4]

Em 2021, em outra mina chilena, a de Salares Norte, 110 trabalhadores do SK foram demitidos alguns dias depois de uma greve selvagem de cerca de 500 trabalhadores, denunciando condições de trabalho subumanas. Em uma carta, esses trabalhadores afirmaram: 

“A mobilização começou porque nós, os trabalhadores, não podíamos mais aguentar as condições de trabalho terríveis que nos foram dadas desde o início deste projeto. Sete trabalhadores foram hospitalizados por intoxicação alimentar. As condições de trabalho no meio do inverno são subumanas, com ônibus presos em nevascas de 24 graus negativos, e a empresa colocou todos os trabalhadores juntos num único ônibus. Aqueles que reclamam são demitidos.” [5]

Voltando ao Brasil, também em 2021, no Pará, 7 trabalhadores da Sigdo Koppers Ingeniería y Construccion (SKIC) morreram em um acidente enquanto trabalhavam em um projeto da Engie Brasil Energia, na construção de linhas de transmissão. Outros 12 ficaram feridos no acidente. É comum, em obras de grande escala na região amazônica, o emprego de jovens migrantes, como as vítimas desse acidente. 6 dos trabalhadores que faleceram estavam muito longe de casa, e seus corpos foram enviados para os velórios em Sergipe e no Maranhão. [6] 

No mesmo ano, o conglomerado registrou um faturamento global de US$3,1 bilhões, crescendo 38% na comparação anual. 

Os donos e acionistas da Sigdo Koppers, burgueses riquíssimos, seguem bem e saudáveis em suas mansões. 

Os trabalhadores no Chile, Brasil, e em todos os países em que o conglomerado tem filiais, seguem servindo a estes burgueses como fontes de extração de mais-valia. Na trágica madrugada de 12/08, 9 desses trabalhadores e trabalhadoras faleceram, simplesmente porque foram trabalhar. Aos familiares e amigos, prestamos solidariedade.


[1] “Em 2000, outro acidente matou três funcionários” por Rodrigo Sais. Publicado em: https://www.folhadelondrina.com.br/cidades/em-2000-outro-acidente-matou-tres-funcionarios-490783.html

[2] “Trabajadora de Sigdo Koppers denuncia amenazas por causa de su trabajo” por Karina Alarcón. Publicado em: https://radio.uchile.cl/2014/08/28/trabajadora-de-sigdo-koppers-denuncia-amenazas-por-causa-de-su-embarazo/

[3] “Ferroviarios Del Pacífico paralizan funciones en Ventanas” por La Izquierda Diário. Publicado em: https://www.laizquierdadiario.com/Ferroviarios-Del-Pacifico-paralizan-funciones-en-Ventanas

[4] “Indigenous fight to keep land in Chile” por James Langman. Publicado originalmente em The Washington Times. Disponível em: https://www.latinamericanstudies.org/chile/pehuenches-03.htm

[5] “Rebellion by Chilean miners comes into conflict with unions” por Mauricio Saavedra. Disponível em: https://www.wsws.org/en/articles/2021/09/07/chil-s07.html

[6] “Condolências pela porte de sete trabalhadores terceirizados da Engie no Pará” por Movimento dos Atingidos por Barragens - MAB. Disponível em: https://mab.org.br/2021/07/20/condolencias-pela-morte-de-sete-trabalhadores-terceirizados-da-engie-no-para/](https://mab.org.br/2021/07/20/condolencias-pela-morte-de-sete-trabalhadores-terceirizados-da-engie-no-para/