𐃆 𐃆 𐃆
Um dos principais argumentos apresentados pela social-democracia brasileira sobre o movimento pelo fim da escala 6x1 - ao menos pela parte dela que aderiu a este movimento - é o de que a redução da jornada de trabalho representa uma vantagem tanto para os capitalistas quanto para os trabalhadores. Essa afirmação se sustenta no aumento da produtividade causado pela redução da jornada.
A Carta Capital, um dos jornais petistas mais famosos do país, citando a deputada Erika Hilton, do PSOL, afirma em sua matéria sobre o tema:
Apesar do apoio popular, a proposta enfrenta resistência de setores conservadores e neoliberais, que argumentam que a redução da jornada seria prejudicial à economia. No entanto, Erika Hilton, autora da proposta, rebate e aponta que o modelo 6×1 é contraproducente para o País. Os exemplos, defende, são internacionais.
“A escala 6×1 rebaixa a produtividade do Brasil, enquanto países como Reino Unido, Alemanha e Portugal, que adotaram jornadas mais curtas, mostram benefícios tanto para empresas quanto para trabalhadores”, afirmou.
Um estudo realizado no Reino Unido, que implementou a jornada de quatro dias por semana, demonstrou, por exemplo, que quase 40% dos trabalhadores sentiram menos estresse e mais de 70% apresentaram redução de sintomas de burnout. Além disso, empresas reportaram menor rotatividade de funcionários e um ligeiro aumento na receita. [1]
Percebe-se a ênfase na possibilidade de uma barganha com os interesses dos “setores conservadores e neoliberais” que resistem à proposta. Essa barganha se efetuaria, ao que tudo indica, colocando o fim da escala 6x1 como um interesse do “País”, do “Brasil”, que tem sua produtividade rebaixada pela escala. Mesmo que se aposte nesse discurso, de que o fim da escala 6x1 é benéfico a todas as classes no Brasil, nada garante que os capitalistas verão margem de lucro nessa medida. E se for o caso, não há direcionamento pior para a classe trabalhadora - agora mobilizada em torno dessa pauta -, do que o de evitar qualquer ofensiva, para facilitar uma negociação.
Outro famoso jornal petista, o Brasil de Fato, escreve, citando a deputada Sâmia Bomfim, também do PSOL:
A deputada cita que outros países já adotaram a redução de jornada e que benefícios foram sentidos. E critica quem é contrário sob o argumento de que vai prejudicar a economia.
“Há muitos países do mundo que adotam escalas parecidas, que é o que está proposto na PEC, que seria 4 por 3 ou, no mínimo, 5 por 2, ou seja, pelo menos não somente um dia de descanso para essas trabalhadoras e trabalhadores. Isso aumenta a produtividade porque os trabalhadores estão mais estimulados a seguirem com as suas atividades. Então, todos esses que se colocam contrários a PEC, é porque, sem dúvida, não fazem a menor ideia do que é a vida de um trabalhador CLT, que acorda cedo, dorme tarde, sobretudo nos grandes centros e que, além da jornada exaustiva de trabalho, ainda tem a jornada no transporte público, de duas horas para ir, duas horas para voltar”, observa a parlamentar.
“As pessoas pensam na economia sempre sob uma lógica de hiperexplorar o trabalhador. Não pensam na economia como um todo, de possibilidade, inclusive, de ter tempo para o consumo, tempo com a sua família, para cuidar de si. Todo mundo ganha, o trabalhador ganha, a empresa ganha com aumento da produtividade, o Estado e o conjunto da sociedade também, que vai ter trabalhadores mais bem dispostos e felizes na completude da sua vida.” [2]
É preciso, frente a tais afirmações, defender que a luta dos trabalhadores pela redução da jornada de trabalho não deve caminhar para o cumprimento do objetivo tradicional da social-democracia, ou seja, para a integração da classe trabalhadora à democracia capitalista, à nação ou à “economia como um todo”, como afirma a deputada Sâmia. Os social-democratas, no decorrer dos quase 200 anos disso que se pode chamar movimento operário, trabalharam incansavelmente para isso, para arranjar um lar para o proletariado na sociedade de classes, de forma que ele pudesse depender dos representantes parlamentares e sindicais que cuidam da sua situação. Dessa forma também, o próprio trabalho exercido pelo proletariado não é mais, sob essa perspectiva, o meio para a acumulação de riqueza de um capitalista, às suas custas; ao invés disso o trabalho é uma contribuição muito necessária ao “conjunto da sociedade”.
Defendemos, portanto, que o objetivo dos comunistas em relação ao movimento pelo fim da escala 6x1 deve ser justamente o oposto daquele dos social-democratas. A criação de órgãos nos locais de trabalho, independentes de qualquer instituição parlamentar ou sindical, com articulação nacional e delegados eleitos na base. Dessa forma, mesmo com as eventuais “vitórias” no âmbito parlamentar por parte dos social-democratas, a ação dos comunistas para a formação de órgãos independentes deve impedir que essas vitórias não se convertam em derrotas, não aprofundem a integração da classe à “nação” ou à “economia”; deve recusar meios-termos e ser capaz de continuar a luta no futuro, nos próximos embates da luta de classes.
Acima de tudo, tais orgãos não devem ser simplesmente formas de auto-organização com o objetivo de libertar o trabalho das pressões exercidas pelos “conservadores e neoliberais”, de forma a permitir que os trabalhadores nadem com a correnteza do progresso, da democratização, do “retorno à normalidade” que o petismo defende desde a eleição de Lula. A luta pelo fim da escala 6x1 e pela redução da jornada de trabalho deve ser transformada em uma luta contra a economia, contra a nação, contra a produtividade, o trabalho e o capital.
PELO FIM DO TRABALHO
PELO FIM DO CAPITAL
DESTRUIÇÃO DO RELÓGIO
REVOLUÇÃO MUNDIAL
[1] “Entenda o que é e como funciona a escala de trabalho 6×1” por Marina Verenicz. Carta Capital, 11 de novembro de 2024 às 12:58. Clique aqui para ler a matéria completa
[2] “Redução de jornada aumenta produtividade e beneficia também as empresas, diz Sâmia Bomfim sobre PEC do fim da escala 6x1” por Kaique Santos e Luana Ibelli. Brasil de Fato, 12 de novembro de 2024 às 18:44. Clique aqui para ler a matéria completa